segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Et voilá!

Não há nada tão bem articulado como as leis da oferta e da procura.

Vejam, há uns 20/ 25 anos, a procura dos "canudos" era inacreditável, toda a gente queria ser
doutor ou engenheiro. Ora, os sucessivos governos aperceberam-se de um problema criado pela lei que podia ser aproveitado para dar um empurrãozinho à nossa economia (e, claro, encher a mula aos lambões do costume) - os milhares de clientes a quem era negado o acesso ao ensino superior público (praticamente gratuíto) através dos números clausos.

Durante décadas o ensino superior privado foi o negócio mais prático e lucrativo do país. Não obrigava ao cumprimento da lei, ou seja, curriculos sem o mínimo de qualidade, docentes sem quaisquer qualificações, cursos sem qualquer nexo, tudo tinha o aval da tutela! (não fossem os rejeitados abrir fogo contra o estado que lhes negava o acesso ao ensino). E era tão fácil resolver este problema dos números clausos (mas enfim, isso é assunto para outro dia)...

Quantos dos nossos governantes não eram sócios de cooperativas, fundações e sociedades por quotas detentoras de instituições de ensino? Que negócio fantástico! E contentava a todos, inclusivamente aqueles que preferiam
comprar um canudo fácil a batalhar por um que valesse alguma coisa!

Agora a procura desceu drasticamente, já são poucos os que querem um diploma seja lá do que for... As universidades públicas estão a ficar sem clientes e sem sustento para os milhares de docentes que empregaram nos anos áureos. Que fazer?

Primeiro, fechamos as
universidades privadas e garantimos o sustento da públicas por mais uns anos (e fazemos um brilharete político).

Depois, bem... O melhor é MUDAR DE NEGÓCIO!!!

Vamos abrir Clínicas e Hospitais Privados!!! É isso, basta fechar alguns centros de saúde, maternidades e estruturas afins. Cria-se uma enorme necessidade de estruturas do género o que vai "obrigar" o governo a fechar os olhos à falta de qualidade (sim, porque a qualidade custa muito dinheirinho!!!) e abrir espaço ao sucesso de um número sem fim de clínicas e hospitais privados.

Et voilá! É o que se arranja neste talhão à beira mar plantado!

quarta-feira, 25 de julho de 2007

De mal a Pior...

Há muito que me interrogava pelos destinos de certa criatura, acabei de ter a resposta!
Inês Serra Lopes estava sentada nos estúdios da SIC Notícias e preparava-se para fazer a rubrica "Revista de Imprensa".
Será possível? Mas será mesmo possível?

Uma criatura rasca, que tentou incriminar um inocente no processo mais escandaloso e mediático do nosso talhão, quando se sabe que é filha de um dos advogados do principal acusado?

Será possível? Esta Maçonaria da treta que temos no talhão está a ir longe de mais, principalmente porque se trata, na realidade, de uma máfia ordinária que perpreta todo o tipo de prejuízos ao estilo "cosa nostra".
Volta, volta que estás perdoado...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Ajudem a levantar o PAU

Caríssimos

Acabei de ter uma discussão com um Fundamentalista da Democracia que me deixou… neste estado!

Há muito que queria apelar a todas os inteligentes praticantes que conheço (sim, conheço alguns inteligentes não praticantes, mas a maior parte são mesmo estúpidos) que me ajudassem a levantar o PAU (não quero de maneira nenhuma que se especule acerca da criação de mais um partido político). O PAU não é mais do que o Poder Anarquista Universal.

Não se admite mais essa cambada de idiotas, vivendo às custas do trabalho alheio, ganhando milhares de contos (milhares de euros) ao fim do mês e ainda ajudas de custo e despesas de deslocação para se reunirem (quando se lembram…) com pompa e circunstância a gozar de tudo e todos sob a égide da mais perversa e hipócrita prática de governação, a Democracia.

Com que raio de razão alguém consegue convencer-me de que devo votar para que tudo corra bem… quando nada corre bem? Para poder críticar quando não existe poder nenhum em críticar seja lá o que fôr?! Para participar activamente?! (esta é mesmo sem comentários) Enfim, para uma data de tretas sem nexo.

A verdade é simples:

I) em Democracia prevalece a vontade da maioria;

II) ninguém disse “da maioria votante”;

III) os votos exprimem APENAS a vontade da maioria vontante (que é neste momento uma percentagem muito pequena dos cidadãos);

IV) e se a maioria dos cidadãos se abstiver?;

V) o não-voto exprime a vontade da maioria (verdadeiramente considerada pelo sistema democrático);

VI) Se a maioria NÃO VOTAR ninguém tem legitimidade para sentar o rabinho no trono e receber uma boa parte da fortuna alheia para cometer impunemente todo o tipo de crimes pelos quais o cidadão comum amargaria sofredoramente as “passas do Algarve”;

VII) Este é efectivamente o único PODER que temos em Democracia, o PODER de NÃO VOTAR…

E, para verem que tenho razão, (esta é para os inteligentes não praticantes) atentem às campanhas dos últimos anos contra a abstenção. O tom do discurso já não é “vote em mim”, é apenas “vote, por favor não fique em casa, vote”).

Já que a justiça ([a justiça] é mais um assunto a tratar mas, devido à sua complexidade fica para a próxima) não pune esses FDPs compete-nos a nós não lhes dar hipótese de cometer atrocidades inimagináveis.

Resumindo, sem querer assumir qualquer tipo de liderança, manipular o poder alheio, ou coisa parecida, peço-lhe encarecidamente que pense sobre este assunto e ajude (se concordar comigo) a substancializar a abstenção como contra-poder. Ajude efectivamente a LEVANTAR O PAU.

Com os melhores cumprimentos,

Ângelo Dias

(sim, é o meu pseudónimo)

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

A linguagem da percepção e o mundo!

O estudo dos processos e mecânismos que nos levam a perceber o mundo que nos rodeia é talvez a matéria mais interdisciplinar que conhecemos.
Quais os pontos que unem os signos palpáveis à sua dimensão eterea? O que nos leva a reconhecer similaridades entre umas coisas e outras?

Existe em nós um reflexo “puro” das existências reais, naturais. De onde ele vem? Da natureza, claro. Esse reflexo é impresso na nossa “interioridade” para que possamos penetrar no mundo, percebê-lo, compreendê-lo. Essa impressão é feita através de sons, imagens, sabores, cheiros e texturas. Mas o universo natural é infinito (segundo nos dizem alguns físicos), ou pelo menos incomensurável, e esta razão leva-nos a construir, a partir de unidades mínimas de sentido, unidades mais complexas e outras ainda mais complexas (através da relação entre unidades complexas), e outras, e outras, ad eternum numa tentativa de representar o visível e o invisível.

Continuação

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

O modelo de comunicação como paradigma



Se o que estrutura o pensamento é a linguagem, e a linguagem é sempre comunicação (de mim para mim, de mim para o outro eu, de mim para os outros, para as coisas ou até mesmo de mim para a linguagem) Então a forma como pensamos a comunicação é o nosso paradigma.

Por exemplo, a forma como Peirce classifica os signos, estabelece a lógica da abdução e a produção de ideias claras está condicionada pela forma como pensa os elementos do processo comunicativo, ou seja, toda a sua teoria está condicionada à relação intrínseca entre o processo comunicativo e a produção de conteúdos.

Jamais poderia Peirce constituir a lógica da abdução se percepcionasse o processo comunicativo tal como Shannon e Weaver.

Se pensamos a comunicação como o processo de transmissão de mensagens e não de criação/ relevância de conteúdos, o nosso pensamento está delimitado por este paradigma, e isso vai impedir que nos debrucemos sobre questões do tipo: Como se faz a introdução da generalidade nos juízos perceptivos? (Peirce, A lógica da abdução)
É por este motivo que não posso concordar com Rodrigo Alsina no que respeita ao carácter essencialmente instrumental dos modelos… Pelo menos dos modelos de comunicação.

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Da natureza das imagens

Finalmente tenho tempo para divagar um pouco sobre a natureza das imagens!
Mais uma vez no seguimento da apologia de Gil ao Olhar.
Se o olhar é, como o próprio afirma, uma linguagem não-verbal dentro da visão que apreende as pequenas percepções e dá sentido às coisas, então posso dizer que o olhar é uma linguagem individual, exclusiva de cada um.

Se entro na paisagem quando olho é porque alguma coisa do meu olhar envolve os objectos numa atmosfera que, por um certo efeito de contra partida, acaba também por me englobar. Uma paisagem exterior de um interior. Isto significa que o meu olhar sobre as coisas me é reenviado pelo espaço (e como espaço) dessas mesmas coisas.

Assim sendo, o que a imagem retorna ao olhar de cada um é "iluminado" por essa linguagem não-verbal e exclusivamente individual, fazendo com que o a nossa paisagem exterior do interior seja única. É essa a natureza das imagens!
Cada um de nós olha o mundo "à sua maneira", e por isso o mundo acaba por nos englobar a cada um de forma distinta.
Talvez por esta razão nunca cheguemos a saber o que o pintor queria "exprimir" em determinado quadro, porque não há uma equivalência/ correspondência entre uma linguagem não-verbal individual e a linguagem "massiva" que nos organiza socialmente. Desta forma, as suas paisagens exteriores do interior não encontram uma "traduação fiel" em ninguém!
Será nesta altura que a obra de arte se separa do seu autor?

Vou deixar este próximo ponto para mais tarde, por agora espero os vossos comentários.

domingo, 14 de janeiro de 2007

"A imagem nua e as pequenas percepções"

Eis o ponto de partida deste livro. Na verdade, ele começa num plano anterior; por uma análise da noção de «invisível», tal como ela se explicita na fenomenologia-ontologia de Merleau-Ponty. Porquê Merleau-Ponty? Porque nenhum outro filósofo, dentro da fenomenologia, explorou táo agudamente as fronteiras últimas da percepção estética. Ninguém como ele (nem mesmo Heidegger ou Henri Maldiney), foi tão longe no exame da «experiência antepredicativa», no domínio artístico. Para tanto, forjou todo um conjunto de conceitos (e, nomeadamente, o de «invisível») com que pretendeu chegar a uma região (ontologicamente definida) aquém mesmo daquela em que a fenomenologia husserliana situava os processos perceptivos. Foi assim que as análises do fenómeno artístico e da percepção estética vieram ocupar o centro da nova filosofia pontiana.


Gil, José. "A imagem nua e as pequenas percepções". Ed. Relógio D'Água
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Infelizmente este livro está esgotado há vários anos e o meu exemplar perdeu-se de amigo em amigo...
A verdade é que a explanação de José Gil sobre a experiência estética é ela mesma "lindíssima".
Vou tentar colocar aqui o ensaio sobre "o olhar e a visão".