terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Da natureza das imagens

Finalmente tenho tempo para divagar um pouco sobre a natureza das imagens!
Mais uma vez no seguimento da apologia de Gil ao Olhar.
Se o olhar é, como o próprio afirma, uma linguagem não-verbal dentro da visão que apreende as pequenas percepções e dá sentido às coisas, então posso dizer que o olhar é uma linguagem individual, exclusiva de cada um.

Se entro na paisagem quando olho é porque alguma coisa do meu olhar envolve os objectos numa atmosfera que, por um certo efeito de contra partida, acaba também por me englobar. Uma paisagem exterior de um interior. Isto significa que o meu olhar sobre as coisas me é reenviado pelo espaço (e como espaço) dessas mesmas coisas.

Assim sendo, o que a imagem retorna ao olhar de cada um é "iluminado" por essa linguagem não-verbal e exclusivamente individual, fazendo com que o a nossa paisagem exterior do interior seja única. É essa a natureza das imagens!
Cada um de nós olha o mundo "à sua maneira", e por isso o mundo acaba por nos englobar a cada um de forma distinta.
Talvez por esta razão nunca cheguemos a saber o que o pintor queria "exprimir" em determinado quadro, porque não há uma equivalência/ correspondência entre uma linguagem não-verbal individual e a linguagem "massiva" que nos organiza socialmente. Desta forma, as suas paisagens exteriores do interior não encontram uma "traduação fiel" em ninguém!
Será nesta altura que a obra de arte se separa do seu autor?

Vou deixar este próximo ponto para mais tarde, por agora espero os vossos comentários.

domingo, 14 de janeiro de 2007

"A imagem nua e as pequenas percepções"

Eis o ponto de partida deste livro. Na verdade, ele começa num plano anterior; por uma análise da noção de «invisível», tal como ela se explicita na fenomenologia-ontologia de Merleau-Ponty. Porquê Merleau-Ponty? Porque nenhum outro filósofo, dentro da fenomenologia, explorou táo agudamente as fronteiras últimas da percepção estética. Ninguém como ele (nem mesmo Heidegger ou Henri Maldiney), foi tão longe no exame da «experiência antepredicativa», no domínio artístico. Para tanto, forjou todo um conjunto de conceitos (e, nomeadamente, o de «invisível») com que pretendeu chegar a uma região (ontologicamente definida) aquém mesmo daquela em que a fenomenologia husserliana situava os processos perceptivos. Foi assim que as análises do fenómeno artístico e da percepção estética vieram ocupar o centro da nova filosofia pontiana.


Gil, José. "A imagem nua e as pequenas percepções". Ed. Relógio D'Água
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Infelizmente este livro está esgotado há vários anos e o meu exemplar perdeu-se de amigo em amigo...
A verdade é que a explanação de José Gil sobre a experiência estética é ela mesma "lindíssima".
Vou tentar colocar aqui o ensaio sobre "o olhar e a visão".