quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O karma é lixado...

Deixem-me dizer-vos como funciona o karma. Um dia, acordamos e sentimos falta de alguma coisa. Dizemos a nós  mesmos:

    - Hummm, quero um cão!! E não pode ser um cão qualquer, tem de ser um pastor alemão puro. Um cão que todos vejam, que impõe respeito, suscita     inveja, dá-me protagonismo… Hummm, é isso.

O Universo, infinitas vezes mais competente do que qualquer mãezinha, sabe que na verdade seremos muito mais felizes com um gato, e, numa tentativa de nos orientar no caminho certo, oferece-nos um maravilhoso dia de sol, precisamente no dia em que estamos de folga.

    - hummm, que espectáculo, se já tivesse o meu cão este dia ia ser fantástico, podíamos passear, ir até à serra…

Um dia de sol é muito vago. Pacientemente, o universo coloca à nossa porta uma bicicleta e, na próxima folga, mais um sol sem limites.

    - Heia que fixe, uma bicicleta!!! É melhor aproveitar para dar uma voltinha hoje porque quando tiver o meu cão já não vou poder andar de bicicleta.

Ainda muito vago… O universo opta então por nos colocar um bom livro na mesa de cabeceira e uns dias frios e chuvosos nas nossas folgas.

     - Que seca, agora com um cão podia ficar aqui no quentinho, a fazer-lhe festinhas…

E tanto empurramos, esgravatamos, puxamos e esperneamos que o universo irónico nos dá aquilo que tanto queremos. Desconcertado e sem outra forma de nos fazer entender o caminho, empurra o cão para o nosso quintal.

    - Que bom!! Finalmente, um cão.

Logo o cão se levanta e joga todo o seu peso em cima de nós quando nos salta para o peito. É aí que percebemos que queríamos um cão com unhas retrácteis e patas almofadadas, para nos fazer umas leves festinhas na ponta do nariz. Segue-se a pata alçada no canto da sala e não percebemos porque é que o cão não vai sozinho para a caixinha de areia, sem sujar nem deixar cheiro… E quando queremos ficar quietos e sossegados no quentinho não pára de fazer barulho e ladrar aos vizinhos.

    - Agora, para aprenderes, eu vou passear de bicicleta e tu vais ter de te cansar muito para me acompanhares.

Começamos também a ler o livro que está na mesa de cabeceira e, pouco tempo depois, o cão fica na rua para não dar trabalho nem chatear. Quando damos conta, acordamos e sentimos falta de alguma coisa. Dizemos a nós  mesmos:
  
    - Hummm, afinal quero um papagaio…

O Universo atravessa um gato no nosso caminho, convencido de que já percebemos a mensagem, mas nós, do alto da nossa incomensurável burrice, pensamos:
  
    - Hummm, não… Não gosto de gatos. Os gatos são falsos e traiçoeiros. Eu quero um papagaio. Não um papagaio qualquer, tem de ser um daqueles enormes, cheios de cores, que aprendem a falar…

E assim por diante, durante vidas e vidas, até percebermos e aceitarmos aquilo que o universo nos quer dar.

(A pedido de alguns amigos que não se fartam de me dizer para voltar a escrever no meu blog, obrigada).